Saturday 18 July 2020

1 9 7 1 - Antonio Bivar's 'Alzira Power'

Yolanda Cardoso & Antonio Fagundes in the first staging of 'Alzira Power'.
13 June 1971 - at Teatro Oficina, Antonio Bivar's 'Alzira Power' with Yolanda Cardoso & Marcelo Picchi, a 'tour-de-force' seldom seen on the stage. I particularly was very moved by the play and regarded Mr Bivar as the great 'white hope'. 

Antonio Bivar reminisces about the time 'Alzira Power' was first produced:

De todas minhas peças a pièce de résistance é 'Alzira Power'. Embora não seja a que eu mais goste, Alzirona, sem dúvida, já faz parte do moderno repertório da dramaturgia nacional. Com 'Alzira Power' você passa representar um instante histórico do teatro brasileiro, disse-me a grande Fernanda. E de onde veio essa personagem? Já contei a história mil vezes, mas vou repeti-la. 

Tinha ido ao Correio enviar algumas cartas e a vendedora de selos em seu guichê fisgou minha atenção pelo jeito brusco e bastante másculo de ser simpática e falante na plenitude de uma evidente meia-idade ativa. Em minutos a mulher imprimiu em mim tal vibração que de volta ao apartamento no Arpoador na mesma noite escrevi a peça. Direta, reta, curta e grossa. Dois personagens: uma doidona aposentada dos Correios & Telégrafos que num surto de porra-louquice resolve chutar o balde e pôr os pingos nos is. Podia ser um monólogo, mas Alzira precisava de um saco-de-pancadas careta para nele se vingar de tudo o que a vida lhe negara e outro tanto. E o coitado do Ernesto, jovem pai de família e vendedor de carros usados na amesquinhada batalha pela sobrevivência, cai nas malhas de Alzira, que faz dele gato-e-sapato. E o resultado espantoso é que a platéia em peso torce por ela!

Inaugurando uma arena incrustada num canto do aglomerado Teatro Ruth Escobar, 'O Cão Siamês de Alzira Porra-Louca', o titulo original de 'Alzira Power', era uma peça p'ra capar entre a vulcânica Yolanda Cardoso e o jovem Antonio Fagundes dirigidos por Emílio di BiasiDe tão curta, a peça tinha intervalo de 20 minutos depois de começada e o mesmo tanto depois do intervalo. Foi sucesso underground numa temporada em que a contracultura também logo daria continuidade com o musical yankee 'Hair'. 

No ano seguinte, já em Londres, fui procurado na casa de Gilberto Gil por Antonio Abujamra de passagem pela cidade. Abujambra estava decidido a montar 'Alzira' no Rio de Janeiro desde que eu aumentasse a peça. Pagou minha passagem de Londres a New York para que lá eu escrevesse o que era preciso e lhe entregasse o texto antes de sua volta a São Paulo. 

Em New York, Jorge Mautner me hospedou numa suite vaga e da qual dispunha no lendário Hotel Chesea. Ali, insuflado por Abujambra e instigado pela cena new-yorkina, impregnei Alzira de toda voluptuosidade dos movimentos políticos em plantão permanente, em especial o movimento feminista e todos os outros reivindicatórios em moda. E seduzido pelos nomes esdrúxulos das superstars warholescas mudei o titulo da peça para 'Alzira Power'. Power, por causa do poder jovem em plena vigência e também uma homenagem ao Tyrone Power, um dos ídolos de minha infância cinematográfica.

'Alzira Power' estreou no Teatro Gláucio Gil em Copacabana e foi o estouro da temporada. Cheguei de viagem e ainda peguei a última semana, com Yolanda Cardoso arrebentando e Marcelo Picchi em nu frontal (ideia do Abujamra) e o mulherio afoito saindo pelo ladrão, como se dizia. 

Desde então 'Alzira Power' não mais parou de ser encenada por alzirófilos e alzirófilas em montagens alternativas pelo mundo afora. Eu soube (recebi o programa) que foi levada até na Serra Pelada durante a corrida pelo ouro. Foi feita até por um lendário travesti, Brigitte Búzios, com o aval da direção de Amir Haddad. Em Buenos Aires; duas montagens em Londres, uma na década de 1980 e outra em 2006; outras duas em Lisboa; e por todo o Brasil, montagens sempre pipocando no cult circuit pelas capitais e pelo hinterland.


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